Estudos para iniciar a carteira de ETFs no exterior - Viagem Lenta (2024)

Quais os critérios para montar uma carteira de ETFs no exterior? O que levar em consideração? Será que apenas um ETF global e misto pode resolver o problema?

Na semana passada, escrevi porque mudei minha abordagem em relação ao investimento direto no exterior. Hoje, vou comentar sobre as carteiras de ETFs que considerei para compor meu portfolio e as conclusões que cheguei.

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Estudos para construção da carteira de ETFs no exterior

Como tenho comentado frequentemente aqui no blog, não quero complicar demais a carteira no exterior. Exatamente por isso, pensei em investir com ETFs na menor quantidade possível. Um grupo de ETFs, que gerenciam uma carteira completa, chamou minha atenção logo no começo dos estudos e é ao redor dele que farei algumas comparações.

O AOA

Mergulhando nas infinitas opções, encontrei uma série da IShares/BlackRock chamada “Core in One”. Eles possuem quatro ETFs de ETFs, com os mesmos ativos, apenas com alteração do percentual de renda variável e renda fixa. O mais arrojado é o AOA, composto por 80% em renda variável e 20% em renda fixa. Na ponta contrária, há o AOK, com 80% em renda fixa e 20% em renda variável.

Nos estudos, usei o site Portfolio Visualizer para comparar as carteiras de ETFs no exterior. Todas as simulações foram baseadas comparativamente ao AOA, que significa o menor esforço possível de gerenciamento em uma carteira de investimento, na medida que você compra apenas um ativo e não precisa fazer rebalanceamento algum, uma vez que a iShares o faz automaticamente a cada seis meses.

O AOA possui uma taxa de administração anual de apenas 0,15%, muito baixa para um portfólio completo com rebalanceamento automático. Analisando os ativos componentes, vemos poucas sobreposições entre ETFs, englobando fundos de grandes ações americanas (IVV), grandes ações de mercados desenvolvidos excluindo USA (IDEV), renda fixa em bonds (IUSB), grandes ações mercados emergentes (IEMG), ações menores de crescimento nos USA (IJH), renda fixa no exterior exceto USA (IAGG) e outras participações menores.

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Essa análise é muito importante para você escolher uma boa carteira de ETFs: a sobreposição dos ativos que compõem cada ETF deve ser a mínima possível. Não tem sentido, por exemplo, você comprar VT (grandes ações globais) e VTI (grandes ações nos USA), pois o VTI já está dentro do VT, percebe? Pensar nisso na montagem de sua carteira é fundamental.

A análise do AOA foi positiva nesse aspecto, pois não há sobreposições. O que faltou, talvez, foram ETFs de ações mais arrojados, que escolhem papéis com base em métricas de valor ou de dividendos. Mas isso veremos mais adiante.

Comparação com as carteiras concorrentes

A comparação que faremos nesse primeiro momento é simular uma carteira de ETFs concorrentes aos ETFs do AOA e que possuam uma taxa de administração individual um pouco menor, além de uma terceira carteira diminuindo a proporção de renda variável e incluindo ETFs de REITs puros, apesar de, nesse caso, haver uma pequena sobreposição no portfólio. As alocações ficaram dessa forma:

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Fiz uma simulação de rebalanceamento MENSAL, o que poderia mostrar alguma vantagem para as carteiras de ETFs combinados. O resultado foi o seguinte:

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O portfólio que emula o AOA, com ETFs com taxas pouco mais baratas obteve um retorno nos últimos 5 anos (máximo histórico, devido há alguns fundos serem novos) de 10,98%, enquanto o AOA, performou 10,49%.

A inclusão de REITS na terceira carteira de ETFs no exterior não melhorou a rentabilidade, provavelmente pela pior performance desses ativos perante as ações. Porém, como rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura, não há muito o que concluir aqui.

Nessa primeira comparação a ideia foi mesmo comparar uma gestão totalmente passiva em ETFs (AOA) com uma gestão ativa em rebalanceamentos mensais. A carteira 2 possui 8 ETFs, o que geraria, possivelmente, 8 corretagens por mês, que não foram consideradas no cálculo, embora esse valor não alterasse muito a diferença final. Talvez, com o tempo, o ganho de capital possa ser mais significativo, caso as vendas com lucro ultrapassem a isenção mensal de R$ 35mil. Nesse caso, o AOA passa a ter uma significativa vantagem.

Além do financeiro, entretanto, o que precisamos analisar é: o quanto de seu tempo é mais valioso do que o dinheiro adicional? Se escolher o AOA, você fica despreocupado e apenas usa seu tempo para aportar, sempre no mesmo ativo. No caso da escolha da segunda carteira, você terá um trabalho mensal nos rebalanceamentos, embora espaçá-los mais não faria muita diferença. Se você rebalanceasse o portfólio apenas anualmente, a diferença ao final de 5 anos seria menos de 0,15% de rentabilidade anual na minha comparação.

Ampliando a longevidade da análise

Procurando uma rentabilidade mais ampliada do que 5 anos, retirei da carteira o ETF IAGG (que era o ativo limitante no prazo) e o substituí pelo LQD. Apesar de não serem idênticos, ambos são ativos de renda fixa e participam com somente 2,62% da carteira: acreditei que a diferença em função dessa substituição seria mínima. Entretanto, essa mudança permitiu analisar o gráfico com um prazo bem mais longo:

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Em dez anos, a situação se inverte: comprar o AOA foi mais vantajoso do que ter uma carteira com vários ativos semelhantes. Ou seja, em uma análise mais ampliada, é muito mais vantagem possuir o AOA, sem precisar se preocupar com rebalanceamentos, com as vantagens em economia de tempo para preenchimento das declarações de imposto de renda. Afinal, é apenas um ativo.

Em uma carteira maior, seria necessário declarar mensalmente o lucro após cada operação de rebalanceamento, além dos dividendos recebidos de cada ativo. Esse AOA parece tentador, não?

Mas vamos para uma terceira análise, onde acredito que o AOA tem algumas falhas e se podemos incluir alguns ativos sem sobreposição e checar se eles melhoram a rentabilidade.

O AOA com alguns acréscimos

Comentei anteriormente que a única falha que vejo no AOA é não possuir ações escolhidas com base em critérios de valor. Faremos algumas adições na carteira com ETFs desse perfil e analisar a rentabilidade ao longo do tempo. Para podermos manter uma visão mais ampliada com o longo prazo, vou manter o LQD no lugar do IAGG.

Elegi alguns ETFs de valor e dividendos para uma nova simulação com base em alguns vídeos que vi do Otávio Paranhos no YouTube: DGS (mercados emergentes, dividendos), DLS (países desenvolvidos exceto USA, dividendos), EFV (países desenvolvidos exceto USA, valor), SLYV (small caps de valor nos USA), EEMS (small caps, emergentes). Se desejar, veja um dos vídeos do Otávio abaixo:

Vou manter no primeiro portfolio o AOA puro e, nas comparações seguintes, diminui-lo para 50%. Para manter a proporção de renda fixa constante e reforçar a comparabilidade dos resultados, os 50% restantes dividirei em 40% dos ETFs acima e 10% em AGG. Vamos aos resultados, com rebalanceamentos mensais:

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E as rentabilidades que apresentaram nos últimos 10 anos:

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Confesso que não esperava esse resultado tão a favor do AOA. Parte dele pode ser explicado pela alta valorização das large caps nos USA, o que não permitiu que empresas menores e em outros mercados performassem comparativamente bem, apesar da escolha mais ativa (através de indicadores) das ações.

Lembro também que esses ETFs de valor possuem uma taxa de administração bem mais alta, chegando a 0,68% e 0,71% nos EEM e EEMS. A única exceção é o SLYV, com 0,15%.

É possível que o prazo não seja suficiente para uma comparação mais adequada, mas, para alongar mais teríamos que modificar muito a comparação das carteiras, o que torna os estudos intermináveis. O EEMS, por exemplo, foi o ETF que restringiu o prazo da comparação, pois foi lançado em 2011.

Substituindo o AOA

Por fim, fiz apenas mais uma comparação antes de pensar em como iniciar a carteira de ETFs no exterior: substituí nos portfólios 2 e 3 acima, o AOA pelo VT, ETF global neutro. Talvez ajudado pela baixa taxa de administração (0,08%) e pelo rally das large caps, tivemos o seguinte resultado:

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A diferença do segundo portfólio com o AOA foi irrisória, e sua vantagem só ocorreu nos últimos dias. O que então podemos concluir desses primeiros estudos?

Conclusões

Os prazos não foram ideais para uma comparação ampliada, pois muitos ETFs são recentes. O ideal é fazermos comparações mais amplas, mas iremos restringir muito nossas escolhas se decidíssemos usar, apenas ETFS com mais de 20 anos de existência, por exemplo.

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Após muitas simulações, apenas uma carteira superou o AOA, apontada logo no início do texto, mas com apenas 5 anos de backtest. Tentei ainda fazer um bem bolado com outros ETFs de valor como VOO, QVAL, VEA, IVAL, VWO (resultados não apresentados aqui para não ficar tão maçante) e nada… os rendimentos são muito semelhantes ao ETF unificado. Será que compensa mesmo tanto trabalho? Será que as taxas maiores desses ETFs de valor não acabam por tirar… valor de seus rendimentos?

Outro ponto é que nesses backtests, ao menos nos mais curtos, as large caps obtiveram resultados melhores no mercado financeiro. Isso, realmente, pode ser um fator de falha na comparação, pois o AOA está mais concentrado nas ações maiores. Porém, mesmo em backtests de 10 anos, ele continuou na frente. Quando que esse resultado se reverteria?

O início da carteira de ETFs no exterior

Enfim, quero deixar claro que ainda estou aprendendo e vou continuar a realizar mais simulações conforme for aprimorando o conhecimento sobre os ETFs no exterior. Mas, por ora, vou começar investindo na solução da iShares com os ETFs combinados.

Vejam que usei sempre nas comparações o AOA, pois ele possui uma parcela maior em renda variável possibilitando comparações mais amplas para esses ativos. Afinal, o objetivo principal no investimento no exterior é manter uma parcela razoável em renda variável, ainda mais considerando o nível das taxas de juros de renda fixa externa.

Porém, mesmo que inicie investindo 100% no AOA, nada impede que eu diminua a exposição em renda variável comprando alguns lotes de AOK (com 80% em renda fixa), em um momento em que acredite que a renda variável já esticou demais. Assim, daria para jogar com esses dois ETFs para manter o % de renda variável desejado no portfólio.

A maior vantagem em operar esses ativos combinados é que, ao mesmo tempo que mantém um bom rendimento nos últimos anos, não drena seu tempo para operar e rebalancear os ativos. Nada impede, entretanto, que eu adicione um ou dois ETFs posteriormente, caso deseje me expor mais a segmentos de valor ou de small caps, e acreditar que elas podem performar melhor no futuro.

Outro ponto para fechar, mas que na verdade merece outro post, é iniciar uma análise de migração de minhas reservas em dólar em fundos no Brasil para o exterior também, como as posições em dólar puro, ouro e criptomoedas, utilizadas nas carteiras de ETFs e fundos de índice no Brasil e na carteira ativa. É verdade que perderei um percentual elevado na conversão do câmbio, mas as taxas e a isenção tributária para vendas até R$ 35mil mensais pode fazer um bom resultado a longo prazo. A ver.

Enfim, se você já investe no exterior e puder comentar as simulações acima, principalmente sua visão sobre ETFs combinados, como o AOA, seria um grande acréscimo para meu aprendizado.

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